O estilo de vida americano, baseado nos princípios da Constituição dos Estados Unidos promulgada em 1787, tem sido uma influência marcante em uma vasta gama de comunidades ao redor do mundo, estendendo seu alcance desde as elites até as populações de periferias e favelas. A relação entre Brasil e Estados Unidos é intrincadamente moldada por uma rica história e contexto geopolítico, alternando entre cooperação e tensão desde os períodos pré-independência do Brasil, através de momentos significativos que vão desde as administrações de Getúlio Vargas e João Goulart até épocas de maior alinhamento, como durante a Primeira República e nos primeiros anos do regime militar.
Atualmente, as relações entre os governos Lula e Biden se mantêm equilibradas, embora existam desafios que incluem a possibilidade de mudanças políticas com o retorno potencial de Donald Trump ao poder nos EUA. Esta situação ressalta a interconexão e a influência mútua entre as duas nações. A adesão ao americanismo, especialmente evidenciada após a Segunda Guerra Mundial, demonstra um apreço pelos princípios democráticos liberais, o consumismo e a padronização social. Tal adesão foi globalmente promovida, atuando como uma estratégia ideológica durante a Guerra Fria, apesar de suas contradições internas, como a exclusão social dos afrodescendentes e a era do macarthismo, que durou de aproximadamente 1950 a 1956.
A globalização e a transição para uma economia mais baseada em tecnologia transformaram a sociedade, promovendo um cenário de fluides e incertezas. As mudanças nas dinâmicas de trabalho e a personalização do estilo de vida refletem a evolução do americanismo no contexto contemporâneo.
As lutas raciais nos EUA, marcantemente iniciadas com o movimento pelos direitos civis na década de 1950 e ressurgindo com força no movimento Black Lives Matter no início dos anos 2010, juntamente com os movimentos sociais no Brasil contra a discriminação racial e a violência policial, representam exemplos significativos da influência cultural e ideológica americana. Essas questões evidenciam desafios significativos relacionados à igualdade racial enfrentados por ambos os países, refletindo a influência do americanismo nas abordagens sociais e políticas a esses problemas.
A influência do hip hop e do funk brasileiro, a ascensão de movimentos de identidade social inspirados pelo contexto americano, e a “uberização” do trabalho ilustram a adaptação do americanismo às realidades sociais e econômicas contemporâneas.
À medida que o Brasil reajusta suas alianças comerciais, principalmente com a China emergindo como seu principal parceiro comercial, a importância de manter os princípios democráticos representativos e os valores ocidentais torna-se ainda mais crucial. A reconfiguração das alianças internacionais, sem considerar esses fundamentos, poderia conduzir a resultados autoritários, sublinhando a necessidade de compreender profundamente as transformações globais, ao mesmo tempo em que se preservam os ideais democráticos que sustentam o modo de vida inspirado na Constituição americana.
Floriano Pesaro – Sociólogo