O setor de saúde suplementar enfrenta um momento delicado em que as empresas focam na análise e na redução de custos e na garantia de perenidade para o negócio. É fundamental lembrar que o compromisso precípuo dessas organizações – a essência do core business delas – é a entrega de assistência à saúde para a população, para o segurado, para quem busca garantir o direito a um tratamento com celeridade e rede maior e mais imediata do que está ao alcance do Sistema Único de Saúde (SUS).
As mudanças e transições que observamos hoje devem ser analisadas com cuidado técnico, de gestão, mas principalmente com foco humanista para assegurar que a prática da medicina ocorra com qualidade e “sem sustos”, sem a supressão de coberturas que podem, como temos lido em portais e jornais diariamente, deixar o “consumidor” descoberto, desassistido ou desamparado.
Os médicos precisam exercer suas atividades clínicas de forma eficaz e precisa; os pacientes esperam por uma assistência digna e segura – essa equação é complexa e requer ajustes contínuos. Por outro lado, os hospitais dependem de receitas para manter suas operações, enquanto as operadoras devem controlar/monitorar a sinistralidade de forma equilibrada, garantindo, assim, a saúde financeira do setor, sem que ela seja um fim que justifique meios nebulosos.
O ciclo de mudanças bruscas, sem diálogo técnico, clínico e com decisões que esbarram na desassistência traz consequências severas, como o risco de perda de milhares de empregos e a migração de bons profissionais para outras áreas ou países, além da desaceleração dos avanços tecnológicos e procedimentos avançados. Estamos diante de um impasse que pode nos levar à constatação de um sistema de saúde fragilizado, sem a segurança necessária e sem as evoluções necessárias para tratamentos e cura de doenças.
É fundamental que o diálogo entre o setor e as autoridades aponte caminhos e ajudem a construir mudanças estruturais. Elas devem levar em consideração todos os envolvidos, respeitando as peculiaridades, as idiossincrasias e as qualidades de cada instituição, priorizando, no entanto, uma organização estrutural e produtiva que resulte sempre em compromisso com a ciência e com o paciente.
Silvia Szejnfeld é médica e diretor do Hospital Certa