Menino, 10 anos de idade, residia na rua Terezina, Vila Bertioga, estudava na escola Nossa Senhora do Bom Conselho, lá pelos anos 1952, 1953 e minha grande diversão aos domingos era frequentar as matinês do cine Imperial na rua da Mooca.
Ocorre que meu pai, espanhol e minha mãe filha de espanhol e de italiana, descobriram um programa de auditório na rádio América aos domingos a tarde chamado Ondas de Espanha onde se apresentavam cantores e bailarinos excelentes, apesar de amadores em sua maioria.
Contrariado eu, e meu irmão William, claro, tive de abrir mão do cinema em favor das bulerias, pasodobles e zambras que assistia com um “bico” perceptível a qualquer um.
O animador do programa era um dos irmãos de Salomão Esper, porém, é do próprio Salomão que me lembro muito porque volta e meia, inclusive por motivo de férias, ele é quem assumia a apresentação do programa, sempre saudado com “vivas” entusiásticos principalmente da plateia feminina que se derretia por sua beleza física e grande simpatia.
O tempo passou, nos mudamos para Avaré, e certo dia a emissora local anunciou uma vaga para locutor. Novamente entra em cena meu pai, já então com menos resistência de minha parte porque na minha lembrança permanecia a imagem de Salomão Esper e as lindas flamencas rodopiando ao seu redor exibindo as pernas bem torneadas – eu já era malandrinho!
Foi na rádio Avaré, dos saudosos Elias Almeida Ward e Clovis Guerra que começou a jornada que cumpro há quase 70 anos com a mesma empolgação do dia em que a iniciei. Já exerci todas funções no rádio, incluindo sonoplastia, reportagens nos campos esportivo, político, policial, produção, apresentação de programas de entretenimento, tudo, menos animação de programas de auditório como aquele que me despertou o interesse pelo rádio e que era apresentado por uma pessoa que me era familiar sem nunca ter conversado com ela.
O tempo passou, um quarto de século, já na Jovem Pan com o nome consolidado e vários prêmios recebidos, a maioria por condescendência de quem os atribuiu, que merecimento, propriamente dito, eis que um dia meu diretor de jornalismo, saudoso Fernando Luis Vieira de Melo me pede para acompanha-lo a um evento na sede da Telesp, região da Bela Vista, onde estaria presente o ministro das Comunicações Euclides Quandt de Oliveira.
Assim que entramos no salão onde muita gente aguardava o ministro, três dos presentes se adiantaram para cumprimentar meu diretor, os três da rádio Bandeirantes, Alexandre Kadunc, diretor de jornalismo, Samir Razuk, gênio da área comercial e, Salomão Esper, superintendente da RB. Um filme surgiu a minha frente, finalmente tinha diante de mim aquele que havia inspirado minha decisão por uma carreira profissional e, pasmem, suas palavras dirigidas ao Fernando Vieira de Melo:
“quando você vai liberar o Parron para vir trabalhar conosco na Bandeirantes”?
Como se me conhecesse há anos, e na verdade era o inverso. Mais 16 anos se passaram e em 1994 me transferi para a RB tendo a grata oportunidade de conviver e receber a cada dia uma nova lição desse mestre.
Lições não apenas de conduta profissional como também de ética, de comportamento moral, de humildade, de respeito aos pares e aos subalternos, atributos tão raros, contam-se nos dedos quem os têm.
Portanto, nunca é tarde, meu amigo, mestre e inspirador Salomão Ésper, em especial nesta data em que você aniversaria e todos nós é que sopramos com orgulho as velinhas, para te dizer, mais uma vez, muito, muito, muito obrigado por tudo. Se estou nesta profissão e, graças a Deus, nela me realizei, é exclusivamente “POR TUA CULPA”.