O Globo de domingo, 29 de setembro, lançou sua comissão de frente para criar um carnaval: Merval Pereira e Miriam Leitão comandaram a ala alegórica da Direita Dividida. Os colunistas, em suas análises, tentam fabricar divisões entre figuras como Bolsonaro, Caiado e Marçal, criando factoides.
Em primeiro lugar, é fundamental esclarecer que, diferentemente da esquerda, a direita não possui divisões internas marcantes. Não presenciamos no espectro da direita algo que seja comparável às cisões entre trotskistas, leninistas, maoístas e outras facções esquerdistas, divergências essas que muitas vezes são extremamente profundas.
Miriam Leitão gostaria de ser reconhecida como uma diva pela Faria Lima, mas não conseguindo tal feito, ela os chama de “elite inculta”. Para ela existe a direita domesticada, que chama de centro direita, o que quer que isso signifique, e a direita extremista, que, diz ela, a Faria Lima apoia. Segundo ela, essas forças extremistas colocam em risco o projeto de país. Mas qual projeto? O que está em andamento de fato está destruindo o Brasil, e precisa ser trocado.
Merval Pereira também sugere divisões profundas na direita, alegando a infiltração de extremistas como Marçal e outros de sua “laia”. No entanto, ao questionar essa afirmação, é essencial pedir evidências concretas de tal extremismo por parte de Marçal, além de seu linguajar peculiar. Sem provas consistentes, tais alegações correm o risco de perpetuar estereótipos e desinformação.
Curiosamente, no ímpeto de vilipendiar a direita, Merval acaba contradizendo sua própria tese de divisão. Ele escreve que Marçal é “da mesma laia de Bolsonaro”. Por serem da mesma laia, são semelhantes e não distintos.
Há uma unidade conceitual significativa dentro da direita brasileira. O que se observa são variações naturais em função das circunstâncias políticas e não uma divisão programática profunda. Sob essa ótica, o alinhamento com princípios liberais e a defesa da liberdade de mercado são pontos comuns que permeiam todo o espectro da direita no Brasil.
O que observamos, sim, não são divisões, mas erros táticos cometidos por decisões politicamente incoerentes, como o apoio de Bolsonaro e Tarcísio a Ricardo Nunes.
Essa contradição é evidente quando consideramos que um líder liberal, comprometido com princípios de liberdade econômica e responsabilidade fiscal, apoia um candidato anódino. Ricardo Nunes, por sua vez, é influenciado por forças distintas e ideologicamente diversificadas. Isso levanta questionamentos sobre a coerência e a unidade na base da direita política.
Embora à primeira vista possa parecer uma divisão programática, de fato, essas alianças refletem principalmente as peculiaridades do nosso sistema político e partidário. É um cenário onde as circunstâncias locais, pressões regionais e a conveniência momentânea levam a alianças que podem se revelar incoerentes. Contudo, isso não compromete os princípios liberais fundamentais que unem a direita no Brasil.
Exceto por Marçal, nossas lideranças conservadoras estão sendo sufocadas pelo jugo opressor dos partidos políticos, com suas teias e tentáculos venenosos. No entanto, é importante salientar que essas dificuldades não representam uma divisão programática em nossa direita. Muito pelo contrário, os desafios enfrentados pelas lideranças são, na verdade, frutos das peculiaridades do nosso sistema político e partidário.
Em realidade a direita brasileira precisa de um partido político capaz de uni-la sob o manto de uma legenda única, livre das armadilhas dos partidos políticos atuais. O drama, contudo, é que no sistema proporcional o espalhamento de candidatos por vários partidos resulta em melhores resultados.
Em suma, a direita brasileira não está dividida, mas dispersa em partidos que ela não comanda, e cujos “donos “têm pouco compromisso com o liberalismo moderno.