Bactérias, vírus e outros microrganismos já causaram estragos tão grandes à humanidade quanto as mais terríveis guerras, terremotos e erupções de vulcões.
Os micróbios derrubaram impérios, impulsionaram outros e estiveram subjacentes às grandes transformações económicas e sociais. Afirmaram-se valiosos instrumentos de poder político. Foram mais mortíferos que quaisquer armamentos bélicos em tempo de guerra. Contudo, enquanto atentados reais à vida, sempre fizeram despertar o melhor das potencialidades humanas em todos os domínios.
O vírus ebola, o responsável pelo sarampo, o HIV, o da dengue, o rotavírus, o da febre amarela, o da Zika, o da varíola, dos herpes, da influenza e, claro, o coronavírus, nos fizeram temer o organismo — a ciência não conseguiu decidir ainda se os vírus fazem parte dos seres vivos.
Porém, não é todo vírus que causa doença (os mais evoluídos e eficazes, inclusive, conseguem se reproduzir sem matar o hospedeiro), e a relação de simbiose nem sempre é negativa para o ser humano.
Os vírus passam por evolução e seleção natural, tal como a vida baseada na célula, e a maioria deles evolui rapidamente. Quando dois vírus infectam uma célula ao mesmo tempo, eles podem trocar material genético para formar novos vírus “misturados”, com propriedades únicas. Os bilhões de vírus que vivem em nosso corpo e ajudam a nos manter saudáveis. Os vírus são os organismos mais numerosos na Terra.
Embora se acredite que temos aproximadamente o mesmo número de células bacterianas que células humanas em nosso corpo (cerca de 37 trilhões), provavelmente temos pelo menos 10 vezes mais partículas de vírus. Talvez possamos até dizer que não sobreviveríamos por muito tempo se todos eles desaparecessem.
Muitos desses vírus estão envolvidos em processos corporais essenciais, fazendo parte do nosso ecossistema interno.
No mundo midiático, digital, instantâneo, a informação é cada vez mais estilizada, pasteurizada, e os fatos recortados da realidade sem nexo, sem contexto, sem passado, sem história, sem memória, numa destruição clara da temporalidade, como se o mundo fosse um eterno videoclipe.
Com o uso da internet, o volume de informação dificulta a compreensão num mundo caleidoscópico, que se apresenta em forma de mosaico sem nexo, que vive transfigurando e ‘refigurando’ o espetáculo da vida como se o confundisse com um reality show.
E quando a telinha do computador se abre, o portal do mundo está aberto. Entretanto, permeando tais informações, há uma grande quantidade de “lixo informacional” invadindo nossos lares todos os dias. O cerne da questão está no fato de que o volume de informação não garante a qualidade.
As estimativas variam, mas espera-se que cheguemos o “pico populacional” por volta de 2070 ou 2080, quando haverá entre 9,4 bilhões e 10,4 bilhões de pessoas no planeta.
Terra chega a 8 bilhões de habitantes: quantas pessoas o planeta aguenta?
Em um momento, o vale era um pântano tranquilo. Gramíneas e palmeiras lançavam sombras difusas na água abaixo. Os peixes espreitavam cautelosamente nas margens dos manguezais. Os orangotangos procuravam frutas com os dedos. Daí um gigante adormecido acordou de seu sono.
Isso aconteceu por volta de 72 mil a.C., na ilha de Sumatra, na Indonésia. O supervulcão Toba, entrou em erupção, no que se acredita ter sido o maior evento desse tipo nos últimos 100 mil anos. Uma série de explosões estrondosas explodiu 9,5 quatrilhões de quilos de cinzas, que se espalharam em nuvens que escureceram o céu e se arrastaram por cerca de 47 km na atmosfera.
Na sequência, uma vasta área em toda a Ásia foi coberta por uma camada de poeira maciça de 3 a 10 centímetros de espessura. Ela sufocou as fontes de água e grudou na vegetação como cimento —depósitos da erupção foram encontrados tão longe quanto a África Oriental, a 7,3 mil km de distância.
Em 1993, uma equipe de pesquisadores americanos estudou o genoma humano em busca de pistas sobre o passado profundo e descobriu uma assinatura reveladora de um grande “gargalo populacional” — um momento em que a humanidade encolheu tão drasticamente que todas as gerações subsequentes que surgiram fora da África se tornaram significativamente mais próximas.
Estudos posteriores revelaram que nesta era precária, que pode ter ocorrido entre 50 mil e 100 mil anos atrás, a população pode ter se reduzido a apenas 10 mil pessoas — o equivalente aos habitantes do sonolento assentamento de Elkhorn em Wisconsin, nos Estados Unidos, ou o número de indivíduos que participaram de um único casamento coletivo na Malásia, em 2020.
A parte menos afetada do mundo pelo vulcão foi a África, onde a diversidade genética permanece alta até hoje — neste único continente, existem diferenças genéticas maiores entre certos grupos locais do que entre africanos e europeus.
Alguns acham que esse momento não é uma coincidência — eles acreditam que foi a erupção vulcânica que fez isso. A ideia é muito contestada, mas não há dúvida de que grande parte da humanidade descende de um número relativamente modesto de ancestrais super-resistentes.
Mas, crucialmente, alguns cientistas acreditam que o evento extremo mergulhou o mundo em um inverno vulcânico que durou décadas — e quase extinguiu nossa espécie.
Ao mesmo tempo, nossos números e engenhosidade permitiram à humanidade realizar feitos que nenhum outro animal poderia sonhar — dividir átomos, enviar equipamentos complexos a quase 1,6 milhão de km para observar planetas se formando em galáxias distantes e contribuir para uma impressionante diversidade de arte e cultura.
Um avanço rápido de 74 mil anos na história e nossa espécie, outrora um obscuro primata sem pelos corporais, sofreu uma explosão populacional, colonizando quase todos os habitats do planeta e exercendo uma influência até nos cantos mais remotos — em 2018, os cientistas encontraram um saco plástico a 10,8 mil metros abaixo da superfície do oceano no fundo da Fossa das Marianas, enquanto outra equipe descobriu recentemente “produtos químicos eternos” feitos pelo homem no Monte Everest.
Nenhuma parte do mundo é intocada — todos os lagos, florestas e cânions já tiveram algum tipo de contato com a atividade humana.
Hoje, nossa população é tão enorme, com tão pouca diversidade genética fora da África, que um pesquisador observou recentemente que não é tão surpreendente que algumas pessoas pareçam semelhantes a perfeitos estranhos — há um pool genético limitado que está sendo constantemente reciclado, e acontecem cerca de 370 mil novas oportunidades (na forma de bebês nascidos) para que essas coincidências “apareçam” todos os dias.
Será que o mundo está superpovoado atualmente? E o que o futuro reserva para o domínio global da humanidade? O debate sobre o número ideal de pessoas no planeta está desde sempre fragmentado e emocionalmente carregado — mas o tempo está se esgotando para decidir qual é a melhor direção.
No conto antigo, os deuses se aborrecem com todo o “barulho” criado pelas hordas humanas, bem como com as “terras que rugem feito um touro” devido ao estresse a que foram submetidos pelas demandas de nossa espécie.
O Deus da atmosfera, Enlil, decide desencadear alguns perigos para reduzir os números novamente — ele planeja pragas, fomes e secas em intervalos regulares a cada 1.200 anos. Felizmente, outro deus salva o dia. Mas então Enlil planeja uma grande inundação… E o conto clássico da construção de barcos e arcas segue em frente.
Na época em que o Atra-hasis foi escrito, estima-se que a população global tinha entre 27 e 50 milhões de pessoas, o equivalente ao número que atualmente habita países como Camarões ou Coréia do Sul — ou de 0,3% a 0,6% do total de indivíduos vivos hoje.
Durante o milênio que se seguiu, os estudiosos parecem ter ficado relativamente quietos sobre qualquer preocupação populacional. Até que, na Grécia Antiga, eles começaram a refletir sobre o assunto novamente.
O filósofo Platão tinha algumas opiniões fortes sobre o tema.
Após um período de rápido crescimento, em que a população de Atenas duplicou, ele lamentou: “O que resta agora é como o esqueleto de um corpo devastado pela doença; o solo rico foi levado e resta apenas a estrutura nua do distrito.”
Ele não apenas acreditava no controle estrito da população, administrado pelo Estado, como também acabou concluindo que a cidade ideal não deveria ter mais de 5.040 cidadãos. O filósofo ainda achava que a instalação de colônias era uma boa maneira de “descarregar” qualquer excesso.
Na obra-prima de Platão, A República, escrita por volta de 375 a.C., ele descreve duas cidades-estados imaginárias — regiões administrativas governadas quase como pequenos países. Uma é saudável e a outra é “luxuosa” e “febril”.
Nesta última, a população gasta e devora excessivamente, entregando-se ao consumismo até “ultrapassar o limite de suas necessidades”.
Infelizmente, esta cidade-estado moralmente decrépita eventualmente recorre à tomada de terras vizinhas, o que naturalmente se transforma numa guerra — o local simplesmente não consegue sustentar a grande e gananciosa população sem obter recursos extras.
Platão se deparou com um debate que ainda hoje é intenso: a população humana é o problema? Ou a questão está nos recursos que ela consome?
Demorou mais de cinco séculos depois de Platão para que a escala global de nossa explosão populacional se tornasse clara.
O autor Tertuliano, que viveu na cidade romana de Cártago, antecipou-se às observações modernas sobre nossas multidões destrutivas.
Em 200 d.C., quando a população humana total atingiu entre 190 e 256 milhões — algo próximo do número de indivíduos que atualmente habita a Nigéria ou a Indonésia — ele acreditava que o mundo inteiro já havia sido explorado e as pessoas se tornaram um fardo para o planeta.
“A natureza não pode mais nos sustentar”, escreveu.
Nos próximos 1.500 anos, a população humana global mais que triplicou. Eventualmente, essa preocupação isolada de alguns se transformou em pânico generalizado.
Aos olhos do mundo e do Brasil, a Amazônia aparece nacionalmente como subdesenvolvida à espera de penetração, solução, legalização para que possa adequar-se aos ‘interesses’ nacionais e estrangeiros. Retrata uma ‘vontade de poder’ mundial sobre uma região que pode ser a salvação da humanidade.
A linguagem torna-se ficção com relação a uma realidade cotidiana que não tem mais linguagem. Há um apagamento do real em nome de uma fragmentação discursiva, que elege, nomeia, rotula, enquadra.
A questão ambiental adquiriu contornos universais, como se pode verificar pela polêmica em torno da camada de ozônio e o papel de discussão em torno da possibilidade (cientificamente não comprovada) de sermos hoje pulmão do mundo. Tudo o que conseguimos foi arranhar a consciência individual. Mas há ainda, certamente, uma consciência coletiva.
(*) professor universitário, jornalista e escritor